quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A ELETROLA




“A memória é o essencial, visto que a literatura está feita de sonhos e os sonhos fazem-se combinando recordações."
(Jorge Luis Borges, Escritor Argentino, 1899-1986)

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            Na sala, o som com ruídos de agulha no disco.
            Sobre a mesa, aberto o livro: “Os Miseráveis” de Victor Hugo.
            Do quarto escuro, o último suspiro do patriarca era o início de um tempo de partilhas materiais e imateriais. Campos, casas, gados, harmonias, memórias se dividiriam no inventário em que o advogado da família de boa fama marcaria e remarcaria reuniões para consensos.
            - A quem tocou a eletrola?
            A pergunta se perderia nos desvãos do casarão – futura ruína.
            A resposta seria esquecida na boca do filho mais velho, no ouvido do filho do meio, nos dedos do filho mais moço com um extrato bancário entre os dedos.
            Não se sabe como a eletrola está, agora, em uma praça de Montevidéu, exposta à venda em um sábado de sol, próximo à catedral católica, em meio a outras bugigangas.
            - Quem comprará a eletrola?
            A pergunta se perderá nos sóis e luares dos tempos de tecnologia e consumismo.
            Mas uma música talvez ainda reste ao adquirente daquele monumento de nostalgias. E, num entardecer de domingo, a eletrola voltará a girar a agulha, num toque de assombração.     

Juarez Machado de Farias
Advogado. Radialista.

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